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ACADÊMICOS FUNDADORES

LEOBERTO COSTA TAVARES


Graduado em Farmácia Industrial e de Alimentos pela Universidade Federal da Paraíba, especialista, mestre e doutor em Fármacos e Medicamentos pela Universidade de São Paulo. É professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo desde 1986 e ocupa, atualmente, o cargo de professor Titular no Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica. Tem experiência na área de desenvolvimento de novos fármacos atuando, principalmente, no planejamento e desenvolvimento de novos agentes antimicrobianos, antichagásicos e, mais recentemente, em desenvolvimento de novos radiofármacos para geração de imagem por PET/SPEC do SNC. Vinculado às disciplinas de Obtenção Industrial de Fármacos, Tecnologia Químico-Farmacêutica, Relações entre a Estrutura Química e a Atividade de Fármacos e História da Farmácia, Saúde e Sociedade, na graduação e, na pós-graduação, às disciplinas Otimização de fármacos e Tópicos de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica. Foi presidente da Comissão de Graduação da FCF/USP no período de dez/2010 a Dez/2012 e Coordenador do curso de Farmácia-Bioquímica no mesmo período. Ascendeu ao cargo de Professor Associado III em outubro de 2012. Em Abril de 2013 foi empossado membro efetivo da Academia Nacional de Farmácia, ocupando a cadeira de número 35. Em junho de 2013 foi eleito chefe do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da FCF/USP para cumprir mandato de dois anos. Em setembro de 2014 foi indicado para o cargo de Professor Titular.


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Leoberto Costa Tavares


Radif Domigos, Leoberto Costa Tavares, Lauro Domingos Moretto


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Vicente Nogueira, Acácio Alves de Sousa Lima Filho, Gustavo Baptista Éboli, Silvia Storpirtis, Leoberto Costa Tavares, Lauro Domingos Moretto, Carlos Adalberto de Carmargo Sannazzaro, Marco Antônio Stephano, Radif Domingos, Caio Romero Cavalcanti


Discurso de posse como Membro Titular na Academia Nacional de Farmácia


 


DD. Sr. Presidente da Academia Nacional de Farmácia Prof. Dr. Lauro Domingos Moretto;
Srs. Membros da Mesa,
Nobres Acadêmicos aqui presentes,
Sras. e Srs.


É com imenso prazer que venho a essa tribuna para receber a incumbência de ocupar a cadeira de número 35 da Seção de Ciências Físicas e Químicas da Academia Nacional de Farmácia. Este prazer está também revestido de imensa responsabilidade por ter como patrono o Prof. Dr. Calixto José Arieira, que tanto fez pela Farmácia brasileira.


O Prof. Calixto recebeu a licença de Farmacêutico em 1837, juntamente com mais cinco colegas, pela Escola de Medicina do Rio de Janeiro, sendo estes os seis primeiros Farmacêuticos formados no Brasil. Até aquele momento, 176 anos atrás, não havia no Brasil Escolas de Farmácia, mas apenas dois cursos de formação em Farmácia, criados pela reforma do ensino médico em 1832, ambos vinculados aos cursos de Medicina em funcionamento nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, mas com apenas dois anos de formação.


Natural de Ouro Preto, o Prof. Calixto, juntamente com o seu colega de turma, o Prof. Manoel José Cabral, após quase 2 anos de árduo trabalho e amparados pelo Decreto 140 de 04 abril de 1839, da Assembleia Legislativa da Província de Minas Gerais, fundaram neste mesmo ano a Escola de Farmácia de Ouro Preto, a primeira Escola de Farmácia desvinculada de cursos de Medicina da América Latina, sendo este o marco inicial da educação farmacêutica brasileira de forma emancipada e independente.


A instalação da Escola de Farmácia de Outro Preto se deu no período imperialista brasileiro e em um contexto de forte efervescência política, mormente na então Província de Minas Gerais e, em especial, em sua capital, na época, Ouro Preto.


Intelectual e fortemente politizado, o Prof. Calixto foi mentor de movimentos contrários ao imperialismo, o que resultou em corte dos recursos para a manutenção da Escola de Farmácia por ele fundada, de tal forma que ele e seu colega, o Prof. Manoel José Cabral, se mantiveram por dois longos anos sem provimento de salário e como os dois únicos docentes da instituição.


Professor de farmacologia, botânica, química e farmácia, Dr. Calixto também era proprietário de uma botica, talvez a maior e mais importante da cidade de Ouro Preto, e lá recebia os seus alunos para o desenvolvimento de estágios e práticas profissionalizantes.


A efervescência dos movimentos anti-imperialista levou o Prof. Calixto a sofrer perseguições políticas, tendo sido afastado de suas funções docentes por dois anos além de ser penalizado com vultuosa multa. Cumprida a pena e fiel as suas convicções, retomou sua atividade docente e, reconhecido pelo seu trabalho de Assistência Farmacêutica, conseguiu reestabelecer o financiamento das instituições imperialistas para a Escola de Farmácia de Ouro Preto, que, a partir daquele momento, passou a ter o desenvolvimento planejado e sonhado pelos seus fundadores, mas esta conquista foi vinculada à submissão administrativa da Escola de Farmácia ao Colégio de Ouro Preto, instituição ligada ao regime imperialista e administrada pela Congregação das Missões Jesuítas. Vale salientar que as missões jesuítas, desde o descobrimento, já se ocupava de enfermarias e boticas, com conhecimentos adquiridos em universidades portuguesas.


A partir deste momento os diplomas que até então tinham reconhecimento somente dentro dos limites da Província de Minas Gerais passaram, por determinação do governo imperialista, a ser reconhecidos em todo o território nacional.


A história da Farmácia no Brasil ainda está sendo escrita. A partir da instalação da Escola de Farmácia de Ouro Preto, muitas outras foram instaladas, buscando atender à demanda do desenvolvimento social desta nação, que é ainda muito jovem mas com grande potencial de se tornar uma das mais importantes do mundo, mas, é claro que à reboque deste potencial tem-se problemas na mesma ordem de grandeza, e, na área farmacêutica, especialmente no que concerne à formação destes profissionais há ainda muito o que fazer.


Estamos neste momento com cerca de 420 cursos de Farmácia em funcionamento no Brasil com a formação de cerca de 20 mil novos Farmacêuticos por ano. O nosso mercado de trabalho tem potencialidade para absorver este contingente sim, mas o que mais preocupa é a qualidade da formação dada a esses novos profissionais que são vítimas da mercantilização do ensino superior no Brasil, e este malefício se estende à população, especificamente às camadas mais carentes, que já estão expostas a problemas de outras fontes, mas não menos importantes.


A função docente é um tipo de sacerdócio. Há que se ter paixão pela arte, inspiração e muita força de vontade, a exemplo do Prof. Calixto, ser generoso, abnegado, de comportamento nobre, determinado e focado no trabalho.


Ser docente não é fácil, muitos de nós aqui presentes sabe que isso é verdade, mas também sabemos o quão prazeroso é interferir positivamente na formação dos mais jovens.


Muito cedo que percebi que eu tinha forte inclinação para a pesquisa e pouco mais tarde, ainda na adolescência, eu já tinha a convicção de que o meu futuro profissional seria a pesquisa e a docência. Foi nesta métrica e buscando os caminhos que me levassem a este objetivo que me formei Farmacêutico Industrial e de Alimentos pela Universidade Federal de Paraíba, em 1981, e, buscando o aprimoramento profissional mudei para São Paulo neste mesmo ano, saindo da “zona de conforto” ainda muito jovem, encontrei algumas dificuldades na “cidade grande”, mas que foram superadas e só me tornaram mais forte.


Nesta caminhada encontrei pessoas que me marcaram profundamente pela competência, decência e generosidade, e aqui eu não poderia deixar de citar e até homenagear o Prof. Andrejus Korolkovas, que foi o meu grande mestre e que me inspirou com seus ensinamentos que sempre transcendiam a técnica e tocava o humano. Um grande homem e que Deus o tenha. A professora Marilene Pereira Bastos Ceneviva, minha 1ª orientadora de mestrado, que acreditou e confiou em mim, mas, em 1984, um acidente automobilístico nos privou do convívio com sua alegria de viver, inteligência e generosidade. Sabe do que falo quem a conheceu. Uma grande e muito prematura perda.


Também não poderia deixar de ressaltar os muitos grandes mestres que me brindaram com a oportunidade de fazer parte do rol de seus amigos, como a Prof. Elizabeth Igne Ferreira, a Profa. Elfriede Marianne Bacchi e a Profa. Terezinha de Jesus Andreoli Pinto, que também é membro da Academia Nacional de Farmácia.


Os meus alunos de graduação e pós-graduação que me ensinaram, me instruem e me orientam todos os dias.


Os meus amigos e a minha família que são a fonte de força e inspiração para a minha caminhada, e que juntos compõe o meu cenário de vida pessoal e que, sem eles, isso não seria possível.


Com o passar dos anos adquirimos experiência e os trabalhos de rotina ficam mais fáceis, embora a pesquisa e a docência sejam sempre desafiantes e não se repitam, os anos de labuta nos trás destreza para a condução das tarefas de forma mais confortável, o que nos permite desenvolver novas frentes de trabalho e, foi nesta condição, que comecei meu trabalho junto às entidades de classe, Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo e Conselho Federal de Farmácia, focando a Educação Farmacêutica em seus aspectos regulatórios e de formação. Trabalho este que venho desenvolvendo com muito prazer e consciente da responsabilidade e extensão de nossas ações.


Quero poder, se Deus me ajudar, desempenhar a missão que agora assumo com dedicação e ciente da responsabilidade que a mim é transmitida pela Academia Nacional de Farmácia e que foi, no passado, desempenhada tão brilhantemente pelo Prof. Calixto José Arieira, que viveu no século 19, no turbulento final do regime imperialista brasileiro, e que certamente foram tempos muito difíceis.


Espero que um dia, o meu sucessor, o próximo ocupante da cadeira de número 35 da Seção de Ciências Físicas e Químicas da Academia Nacional de Farmácia, possa dizer também, referindo-se a mim – tempos difíceis aqueles.


Muito obrigado!


São Paulo, 5 de Abril de 2013.